Elias Andreato e o gosto pela palavra

Assisti a Elias Andreato pela primeira vez na peça Um Réquiem para Antonio, dirigida por Gabriel Villela. Ele interpretava o brilhante – e ressentido – compositor italiano Antonio Salieri, atormentado pela inveja que sentia do não menos talentoso Mozart, estrelado por Claudio Fontana. Logo no começo da apresentação, um verdadeiro ensaio sobre a origem daquele sentimento corrosivo, eu já tinha certeza: estava diante de um dos maiores atores do Brasil. Vi duas vezes. Depois, vieram Esperando Godot, de Samuel Beckett, e Estado de Sítio, de Albert Camus. E a cada novo espetáculo que prestigio, aquela impressão inicial só se confirma.

O que mais admiro em suas atuações é o gosto pela palavra. Elias tem gosto em dizer. Em se expressar. Na biografia A Máscara do Improvável (Ed. Humana Letra), assinada pelo jornalista Dirceu Alves Jr., a fonte desse gosto fica clara – a influência definitiva da cantora Maria Bethânia em sua formação –, assim como se clareia toda a história desse grande artista brasileiro, da infância humilde e sem boas perspectivas à descoberta da vocação, o desenvolvimento como ator e as parcerias de muito sucesso com Paulo Autran e a própria Bethânia.

Elias não é de falar muito, mas tem muito a dizer. Por isso, como inferiu Dirceu, “precisa estar no constante exercício da paixão e, detalhe importante, pautado por suas escolhas, mantendo a independência”. Leitura recomendada a admiradores do teatro e a quem acredita na arte como um caminho para o autoconhecimento, a evolução e a dignidade.